29 de outubro de 2011

Os 10 mandamentos do mochilão



   Na década de 1960, os hippies decidiram fazer grandes viagens em busca de conhecimento, equilíbrio e enriquecimento espiritual. Muitos deixavam a Europa Ocidental ou os Estados Unidos em direção ao Oriente. Com pouco dinheiro na carteira, a regra era simples: encolher os gastos para esticar a viagem.
   A busca espiritual coletiva pode não ter melhorado o planeta, mas levou, indiretamente, à fundação de uma das religiões mais bem-sucedidas de todos os tempos: a "mochilagem".

   Mochilar é, para muitos, a única maneira viável de conhecer o mundo. Para outros, é um estilo de vida, a possibilidade de vivenciar uma experiência única em que destino, tempo de viagem e dia de retorno são tão incertos quanto o próprio porvir. É verdade que esse modelo  romântico, inspirado em Che Guevara em seu giro de moto pela América do Sul (a "Poderosa" acabou durando bem menos que a viagem), não se aplica a todos os mochileiros.
   Há aqueles que viajam contra o relógio, no curto intervalo das férias da faculdade ou do trabalho. Alguns se permitem levar coisas como laptop, celular ou MP3 player. 

   Numa pesquisa realizada com 200 mochileiros estrangeiros em férias no Rio em novembro de 2009, viu-se que 68% deles viajam sozinhos, 75% ficam em albergues (20% em hospedagem domiciliar) e 55% gastam no máximo 40 dólares por dia. Nove entre dez mochileiros organizam a viagem por si próprios. Mais revelador: 40% deles apontaram a população carioca como o melhor do Rio - a natureza mesmerizante da cidade ficou com apenas 20%.


Quer mochilar? Então comece conhecendo estes dez mandamentos da "mochilagem".


                                                                                    1. Não terás destino certo
O caminho é tão ou mais importante que o destino. A máxima, digna de qualquer manual rasteiro de filosofia oriental, tornou-se um lema do mochileiro. Sim, é importante ter uma idéia, pálida que seja, do que vem pela frente, mas a preocupação com o próximo local a ser visitado deve vir no momento certo: na hora de ir a esse local. E qual é ele? Siga a dica de viajantes que encontrar pelo caminho, converse com locais. Arrisque-se. Isso é mais interessante que seguir a bandeirinha de uma agência de turismo em meio à multidão.

2. Ficarás o tempo necessário no lugar
E, para sabê-lo, a regra é simples: se gostar, fique mais um pouco; do contrário, vá embora. O importante é experimentar o cotidiano dos cidadãos e extrair o máximo que o local tem a oferecer. Muitos mochileiros acabam descobrindo em destinos não programados nova razão de vida, nova profissão, novo amor. Às vezes, em aparente paradoxo, se enraízam.

3. Não terás muito conforto
Toda religião exige certo sacrifício. Na mochilagem, a fé é colocada à prova em lugares como dormitórios para 20 pessoas - uma delas irá roncar alto o suficiente para ser detectado em sismógrafos - ou banheiros com filas no limite da civilidade. Muitos albergues se esforçam para amenizar a situação com serviços dignos de hotel, como café da manhã completo e traslado até o aeroporto, mas mesmo assim continuam sendo albergues.

4. Não andarás na moda
Chegar a Paris com um pulôver da Christian Dior da cor da estação definitivamente não faz parte do espírito mochileiro. Jeans, camiseta e um confortável par de tênis formam o figurino essencial. Mas o principal é que a roupa resista à duríssima jornada. De novo, nada contra as grifes: o problema é que as roupas envelhecem mais rápido em uma viagem. Você não vai querer ver seu precioso pulôver voltar pronto para ser o próximo pano de chão, vai?

5. Não tomarás táxis
Mochileiro usa transporte público. Sim, certas vezes é mais seguro e conveniente pegar um táxi - voltando de uma festa de madrugada etc. Mas, se não há pressa ou riscos envolvidos, por que não aproveitar uma experiência mais autêntica de viagem e dividir espaço com pessoas desconhecidas? É uma boa oportunidade de colocar em prática sua engenharia social.

6. Terás opinião forte
De que adianta vivenciar experiências novas e não propagá-las enfaticamente depois? Gostou de um lugar, divulgue. Se passou por problemas em algum albergue, critique. Sua 
opinião soma-se ao conhecimento coletivo dos mochileiros via fóruns na internet ou boca a boca, permitindo que os próximos viajantes possam escapar de grandes furadas ou conhecer lugares pouco divulgados. Você tem parte nisso.

7. Não terás medo de idiomas
Caracteres cirílicos, ideogramas orientais ou até mesmo o incompreensível sotaque dos portugueses. Não é isso que irá limitar seu contato com culturas distintas. O medo e a dificuldade são naturais, mas o espírito de aventura e a vontade de conhecimento de um mochileiro sempre vão falar mais alto. Um bom guia de conversação é mais que suficiente para ajudar em situações cotidianas, e não há nada que mímica e boa vontade não resolvam. Nessas horas, deixe o superego em casa. A timidez, além de não permitir alcançar seu objetivo imediato, vai, no limite, privá-lo de uma boa história para contar na volta.

8. Não te acomodarás jamais
Qual é a graça de estar num destino e não aproveitá-lo? O mochileiro vive cada minuto de sua viagem como se fosse o último. Cada destino é uma conquista. Mas, cuidado: respeite seus limites físicos. Ultrapassá-los vai exigir parada forçada mais tarde. Dormir é imperativo.

9. Farás muitos amigos
Um dos efeitos mais divertidos - e enriquecedores - da mochilagem é o conhecimento de gente nova. Sejam os companheiros de quarto do albergue, sejam os parceiros de bote no rafting, sejam os amigos de caneca no bar. Você toma café-da-manhã com um finlandês, almoça com uma alemã, passeia com um grupo de chilenos à tarde e termina a noite com um grupo animado de israelenses em alguma boate. Por essa facilidade de fazer amigos, muitos mochileiros optam por viajar sozinhos.

10. Não levarás o decálogo tão a sério
Um mochileiro de verdade sabe que nada deve ser levado tão a sério, inclusive mandamentos impressos em revistas de boa circulação nacional. O caminho, que é, sim, pessoal e  intransferível, encontra-o cada um. E da parte da mochilagem, essa religião tolerante, o perdão é universal a quem voltar de uma festa de táxi, se hospedar uma noite em hotel confortável ou até mesmo, veja só, for a restaurante japonês. Sim, você está no seu direito. Só não vá abusar.



Coisas para ter sempre na mochila:

Canivete Muito útil quando se descobre que albergues não têm abridores de lata e facas como temos em nossas casas.
Saquinhos Ziplock São feitos para alimentos, mas, se nunca tentou usá-los para separar as roupas, tente. Eles ajudam a ganhar espaço. Vai mudar a forma como você prepara sua mochila.
Fita adesiva Mochila rasgada, tênis furado, óculos quebrados? Um rolinho na mochila não ocupa muito espaço e pode salvá-lo de apuros.
Lanterna pequena Para ler no quarto nos momentos de insônia sem acordar todo mundo.
Desodorizador Pequenas bolinhas que removem odores desagradáveis no interior da mochila e deixam as roupas com cheirinho de limpeza (cheirinho, eu disse).


Abraços Evandro

Um comentário:

  1. E também uma boneca inflável é sempre bom ter na mochila ;levar para uma montanha na hora do aperto, sempre à "mão" né irmão ????

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